Nós suspeitamos que as sentenças aplicadas contra os dois irmãos da China foram ajustadas como exemplo por um governo que peca pela falta de sofisticação em segurança de computadores e que prefere lidar com o problema aplicando mão pesada. Isso funciona bem, é claro, até que a falta de sofisticação se transforme na incapacidade de conseguir detectar novos ataques.
Estamos vendo uma reprise desse mesmo sentimento com o movimento "strike-back" ("devolver na mesma moeda"). O movimento envolve o lançamento de contra-medidas tecnológicas e não tecnológicas contra eventuais atacantes cibernéticos. Por exemplo, um firewall detecta um ataque a uma porta de sua rede vindo de um endereço IP específico. Ele poderia ser configurado para devolver o ataque lançando contra o invasor um ataque aniquilador.
Alguém aí vê similaridade entre a reação visceral do strike-back e do governo chinês? Uma das grandes parábolas de um dos nossos filmes favoritos -- O Poderoso Chefão --, ensina que a vingança a quente pode consumir não só os inimigos como também atingir quem não tem nada com isso. Profissionais experientes em segurança percebem que manter o sangue-frio e prestar atenção aos passos básicos da segurança é melhor a longo prazo do que tentar dar pancada em todo scanner de porta que aparecer. Até porque é pelo trabalho dos hackers que se descobrem os "furos" de segurança e os bugs de sistemas e redes.
Tem sido frequente nós defendermos o uso do termo "hacker" (ao invés de "cracker") em nossos textos. Nada, nem o rancor da mídia, vai mudar o fato de que os hackers invadem as redes como um modo de vida, enquanto que os crackers o fazem com objetivos mais nefastos. É claro que toda a motivação do hacker, seja malícia ou curiosidade, acaba impactando os proprietários das redes que eles invadem.
Mas isso não justifica colocá-los na cadeia ou sentenciá-los à morte. A tradição de hacking é de sempre divulgar abertamente suas atividades, e isso pode ser o que diferencia um pesquisador de segurança de um ladrão comum. Sem esse empurrão do "desmonte dos códigos" -- que permite ver as coisas sob outra luz -- a segurança não progrediria. A melhor expressão para esse sentimento vem do slogam de um grupo bem-sucedido de hackers, o L0pht, que diz: "Transformando a teoria em prática desde 1992."(Stuart McClure é gerente sênior e Joel Scambray é gerente da divisão de Information Security Services da Ernst & Young. Ambos têm experiência de nove anos nas áreas de gerenciamento da segurança de informações nas áreas acadêmica, governamental e corporativa. Dúvidas ou sugestões para a coluna devem ser enviadas por e-mail, em inglês, para [email protected]).
Por Stuart McClure e Joel Scambray