Se você suspeita que seu filho seja um hacker de computador, aqui estão alguns conselhos de um hacker convicto, para você lidar com isto.
Tudo começa com uma batida na porta. Uma dúzia de homens de terno portando c oldres em seus ombros, está lá fora. Seus carros entopem a rua. Por cima de seus ombros você pode ver os vizinhos - com roupões e chinelos - olhando o espetáculo de suas portas. Poderia ser o FBI, ou talvez o Serviço Secreto, porém, quem quer que sejam os mal humorados agentes, lhe mostram um pedaço de papel e se precipitam andar acima, para o quarto de seu filho ou filha. Então, talvez pela primeira vez, você se pergunte o que seu filho tem feito com o computador.
Se você é pai, talvez encare a Internet como uma mistura de perigo e promessa para suas crianças. Ela pode ser uma ferramenta de valor incalculável e uma maneira para encorajar suas crianças a desenvolver habilidades com o computador que eles certamente utilizarão no futuro. Mas o que vai acontecer se eles tomarem isto com muito entusiasmo e ansiedade, e começarem a investigar áreas "proibidas"?
Em alguns casos, a rebelião normal da juventude é simples curiosidade, mas se ela é expressa pela Internet, poderá virar sua família de pernas para o ar. Em fevereiro passado, na cidade de Cloverdale, Califórnia, pais surpresos descobriram que seu filho adolescente tinha cometido várias intrusões no Pentágono. Uma semana mais tarde, em Massachusetts, o Department of Justice ganhou sua primeira causa contra um jovem por violação da Federal Computer Fraud and Abuse Act.
Na minha família, aconteceu 15 anos atrás, numa das primeiras batidas contra hackers acontecidas nos Estados Unidos. Nesta época, eu era um adolescente sem conhecimento de que era ilegal acessar aos computadores federais. Agora, com os meus trinta anos, começo a me perguntar como eu protegeria meu filho de se tornar um criminoso da computação.
Acredito que a melhor aproximação é sempre se manter informado e se comunicar com os seus potenciais "cyberpunks". Algumas das coisas que você poderá interpretar como sinais de perigo podem não ser necessariamente perigosas. Por exemplo, se seu filho se auto denomina um "hacker", talvez não esteja procurando encrenca. Apesar da incessante advertência da mídia, os hackers não são criminosos por definição. A palavra na realidade descreve alguém com um talento para a tecnologia, um profundo interesse no funcionamento das coisas e uma tendência a rejeitar qualquer limite. Por exemplo, se o seu filho desmontou o "Giga Pet" que você deu para ele no Natal, provavelmente ele é um hacker.
Naturalmente, alguns hackers vão mais longe e testam suas habilidades contra o mundo adulto - nos sistemas de computação corporativos e governamentais.
Se eu suspeitasse que um filho meu estivesse invadindo o sistema de um computador alheio, eu iria querer pará-lo, mas não porque este é o "crime do século". Os verdadeiros hackers vivem num código de ética próprio, que exclui a danificação de um sistema ou o proveito de suas intrusões, e alguns adolescentes podem ter valores piores. Porém, sem levar em conta os motivos, um hacker que é flagrado no ato, hoje em dia, provavelmente vai ser tratado como um espião industrial ou como uma ameaça à segurança nacional. Um único momento de rebelião "explorativa" poderá levar um adolescente a uma condenação por crime.
Então, se você suspeita que seu filho possa estar "passando dos limites", existem vários pacotes de software no mercado que poderão permitir o controle de seu monitor, ou de seu acesso à Internet. Mas nem pense em usar um deles. Se o seu filho é um verdadeiro hacker, a sua solução técnica será motivo de riso e de diversão, assim como um insulto ao seu talento. No lugar de colocar barreiras, eu sugiro que você fale com seu filho. Se ele estiver lendo algum tipo de site "underground" para hackers, leia você também. Se ele tiver uma assinatura de uma revista de hackers, se sinta livre de lhe fazer perguntas sobre o assunto e de se maravilhar com a inteligência das mais recentes técnicas de hackers. Então, fale com ele das consequências: o aumento dos custos para uma defesa legal, ou os problemas que uma pessoa acusada de crime poderá enfrentar numa academia ou no mercado de trabalho. Comece a procurar alternativas para a vida do "cybercrime".
Alternativas construtivas
Se seu filho possui um traço rebelde, sugiro que você não tente suprimi-lo mas procure canalizá-lo. Quando os hackers se tornam adultos, eles encontram um substituto razoável para a emoção da intrusão trabalhando do outro lado. Pergunte ao seu filho se ele não gostaria de procurar os buracos de segurança de seu sistema. Peça para ele pensar nisto e então peça-lhe conselho sobre uma maneira de proteger seu próprio e-mail e sua conta do Provedor.
O hacker tradicionalmente possui um elemento de desrespeito à autoridade. Até quinze anos atrás, quebrar sistemas era um aceitável "rito de passagem" na indústria, e as mesmas pessoas que eram pioneiros nesta inteligência artificial e nos computadores pessoais também introduziram escutas telefônicas, quebraram cadeados e cometiam intrusão nos computadores alheios. Na época, os hackers acreditavam que os computadores eram uma fonte pública e que o seu acesso e conhecimento deveria ser livre.
Num certo sentido, a primeira geração de hackers ganhou a sua batalha quando criou o computador pessoal: ele lhes permitia acesso ao poder da computação sempre que eles quisessem. As crianças de hoje podem reivindicar esta vitória na Internet criando a sua página Web.
Existe muito lugar para a inovação e a criatividade. Os PCs de hoje são tão possantes quanto as mainframes de ontem. Com os PCs atuais ninguém precisa infringir a lei para explorar a tecnologia. Com as ferramentas certas e com o apoio dos pais, as crianças podem aprender o respeito por seus semelhantes e pensar em seu futuro dominando a linguagem da programação.
Se meu filho fosse um hacker, eu o encorajaria a afastar-se da gratificação instantânea de quebrar o computador de uma companhia, em troca da maior gratificação de criar sistemas à prova de hackers. Afinal de contas, é realmente disto que se trata.
Nota: Kevin Poulsen não possui um endereço de e-mail. Ele está proibido de usar a Internet e de possuir um e-mail até 3 de junho de 1999.